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Educação financeira nos tempos de consumismo

Ana Cristina Alves Lima

Como profissional da área de educação fico atenta à várias publicações referentes a temas que envolvam não só questões técnicas, mas também reflexões sobre as novidades e atualizações decorrentes das mudanças na sociedade. Educação e desenvolvimento são temas frequentes nas colunas de uma escritora que gosto muito, Rosely Sayão, psicóloga que escreve em um jornal de grande circulação no país.

Muitos teóricos da psicologia baseiam-se em questões pessoais para desenvolverem suas teorias. A curiosidade em aprofundar o conhecimento sobre questões pessoais faz parte das justificativas de muitas pesquisas realizadas. Por isso, resolvi escrever sobre este tema, que acredito que deveria fazer parte, de alguma forma, da grade curricular das escolas brasileiras.

Vejo que falar sobre valores é algo que gera certo desconforto, pois aprendemos, desde pequenos, que não devemos perguntar "quanto você ganha?", "qual é o valor do seu salário?", "quanto pagou por isso?" etc. Mas como aprender a lidar de forma consciente com o dinheiro e o valor das coisas?

As crianças começam a ter consciência dessa "transação" por volta dos cinco anos de idade, mas são muito poupadas (em alguns casos, é claro) de pensar sobre esse assunto. Numa época em que se fala sobre sustentabilidade, falar sobre educação financeira é um dos pilares para que o futuro adulto compreenda e lide melhor com seus ganhos e gastos.

Voltando à Rosely Sayão, em uma entrevista ela traz a ideia de que o adulto poupa a criança de entender como o mundo realmente funciona e os procedimentos envolvidos. A autora comenta um exemplo: "Tem o antes, que é pensar na pessoa, pensar no presente, sair para comprar o presente, pedir para os pais se pode ir, perguntar se os pais podem levar e buscar. Depois tem a festa, o desfrute, e depois da festa tem de ver quem vai buscar. Tudo fica com os pais e, para os filhos, é só ir à festa. Tomar banho é a mesma coisa: é só entrar debaixo do chuveiro. Não tem a organização da roupa e do banheiro, enxugar o banheiro. Nada disso, para os filhos, faz parte desse processo. Isso tudo é superproteção".

E com as questões financeiras, as decisões também ficam exclusivamente com os pais (lógico que as grandes decisões devem mesmo ser tomadas pelos pais) e pouco se incentiva à criança a pensar e decidir como vai usar o dinheiro recebido em forma de mesada. Nem a mesada é uma cultura divulgada aqui no Brasil. Qual a consequência disso? Crianças que se tornam adultos e precisam lidar com dinheiro e, dependendo de como foram orientadas, podem levar mais tempo para organizar a sua vida financeira, desde o conceito de valor das coisas, bem como o valor do seu esforço, dedicação e envolvimento no trabalho. Essa nova geração é uma das que tem apresentado maior dificuldade em se relacionar com o trabalho. Muitos mal se formam e já querem assumir cargos de chefias, com altos salários. Se recusam a fazer atividades que não tenham "a ver" com sua formação e várias questões com hierarquia (mas isso podemos deixar para um outro texto).

O que isso tem a ver com a educação financeira? A falta de conhecimento do valor real das coisas e que nada se consegue gratuitamente. Com essa mania das lojas de R$ 1,99, os brinquedos quebrados ou perdidos são facilmente substituídos por novos, a criança não se preocupa em cuidar do brinquedo para poder brincar várias vezes e nem em esgotar todas as possibilidades com ele. Logo que enjoa, substitui por um novo. O que, na idade adulta, podemos ver a necessidade de ter o modelo mais novo, por exemplo, do celular, do carro.

A tal da obsolescência programada é fato, mas podemos e devemos ensinar aos filhos a utilizar bem os produtos. Saber como "empregar" o dinheiro recebido de forma consciente. Na infância são os produtos fílmicos que chamam atenção (produtos relacionados aos desenhos infantis); na adolescência, os produtos de marcas da moda e, na idade adulta, a compra de bens que "causam status", ou seja, o consumo sempre fará parte das nossas vidas, no entanto, quando se aprende desde pequeno o valor das coisas e como ganhar e gastar esse dinheiro, teremos pessoas muito mais empenhadas em cuidar dos processos de produção (que é o que vem acontecendo).

No ritmo de consumo que estamos, seria necessários três planetas Terra para dar conta "dessas necessidades". Então, realmente precisamos relembrar conceitos importantes como "só colocar no prato a comida que vai comer", "você precisa deste produto ou só o deseja"? "esse produto vale esse preço?". E assim investir em produtos e serviços que realmente sejam significativos. E ensinar para as crianças o valor das coisas desde cedo.

Referências

Link da entrevista:

http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/vida/noticia/2015/12/educar-pressupoe-sempre-desagradar-a-crianca-diz-psicologa-rosely-sayao-4933719.html

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