Publicado em: 02/09/2024
O docente do curso de Biologia da Universidade de Araraquara – Uniara, Olavo Nardy, alerta a população para os perigos das queimadas descontroladas nesse período de grande estiagem que afetam a fauna e a flora e ocasionam sérios danos a nossa saúde, principalmente aumentando casos de problemas respiratórios e de outras doenças. O professor dá dicas de como podemos ajudar a amenizar o problema, levando em conta que ainda teremos um período longo de seca antes da volta das chuvas.
Ele explica que “toda alteração que nós provocamos no meio ambiente, alteramos o ponto de equilíbrio do sistema”. “Como as alterações que promovemos, sobretudo no estado de São Paulo, foi muito grande, principalmente com a retirada e/ou substituição da vegetação por paisagens mais homogêneas, com grandes plantações de cana de açúcar, alteramos o ponto de equilíbrio do sistema. Então, parte desse desequilíbrio é ter ventos mais intensos, solos mais expostos e possibilidade de incêndios naturais com mais intensidade, além da atividade humana que provoca esses incêndios”, relata.
“Nessa época era para estarmos chegando ao fim da seca, mas podemos pensar que, por conta dessas alterações, temos ainda mais uns vinte, quarenta dias de estiagem, com um clima mais seco, para, a partir daí, começar as chuvas. Isso é um problema sério, pois essas queimadas intensas acabam se intensificando porque nesses dias estamos com muito vento e isso propaga bastante esses incêndios, não só florestais, mas também em áreas de pastagens, de cana de açúcar”, alerta Nardy.
Segundo ele, “temos muitos problemas em função disso”. “A quantidade de material particulado na atmosfera, mais hora ou menos hora, vai chegar até as cidades, aos centros urbanos, e fazer que aumente as doenças respiratórias e outros tipos de problemas, como o aumento do gasto com água para a limpeza das casas. Precisamos nos preocupar em ter uma rede de combate a esses incêndios, pelo menos de alerta, para indicar a quem faz o combate, como as brigadas de incêndios das usinas, o corpo de bombeiros e outras brigadas que existem na região, como, por exemplo, das empresas de papel e celulose, para tentar fazer com que elas trabalhem de forma conjunta para reduzir esses incêndios enquanto são coisas pequenas”, orienta.
O docente sugere que “deveria ter um sistema de detecção de fumaça e de incêndios para poder fazer um trabalho desses, pois o custo social desses problemas, como o consumo excessivo de água, que já é escassa, acaba gerando um custo excessivo que a sociedade vai pagando”. “Precisamos ver como prevenir e agir para os próximos períodos secos que, como mudamos o ponto de equilíbrio, talvez eles sejam mais extensos”, afirma o biólogo.
“Para as pessoas que vivem nas áreas urbanas a dica é sempre ficar de olho nos terrenos vazios - baldios -, porque eles podem pegar fogo, tanto de forma natural quanto de forma criminosa, intencional. Seria importante os moradores solicitarem uma vistoria no terreno ou se conhecerem o proprietário, solicitar que ele faça o corte da massa biológica que pode queimar e fazer a retirada desse material”, orienta Nardy.
O docente ressalta que “quem mora na periferia e/ou próximo de áreas de vegetação natural, matas ciliares e rios urbanos, quando ver um ponto de fumaça ou uma condição pequena, informem ao corpo de bombeiros e autoridades municipais responsáveis, para que se possa tomar uma atitude antes do fogo chegar em um ponto crítico”. “Porque, perto da área urbana, o risco de perda de vidas ou sequelas mais graves é muito maior. Temos que ficar bem atentos a esses pontos de fumaça que vemos subindo”, alerta ele.
Sobre a relação do lixo com as queimadas, o professor conta que “são várias as origens e existem poucos estudos sobre elas, mas não são só bitucas de cigarros acesas jogadas que ocasionam o fogo, mas também lixo de forma geral”. “Uma garrafa de plástico com água gera um efeito lente que, ao confluir com os raios solares e a palha seca, pode gerar um incêndio. Por isso, a dica para o cidadão comum, é evitar jogar lixo na rua, principalmente bitucas, vidros, plásticos e coisas desse tipo, que podem se tornar combustível para incêndios. Se possível chamar a atenção de pessoas que fazem isso, sei que é difícil, mas evitar jogar o lixo e dar informações é uma forma de ajudar”, aconselha.
Outro problema gerado pelas queimadas “é com relação aos animais domésticos ou silvestres”. “Um efeito secundário das queimadas é a fuga de animais domésticos, gado ou animais silvestres para lugares onde não tem incêndio, ocasionando um grande risco de acidente. Um animal desesperado em fuga, nunca sabemos qual o comportamento que ele pode ter. Às vezes eles podem vir se esconder nas casas e a gente nem vê, como nos forros, casinhas de cachorro, embaixo de um armário. Se for uma cobra, um animal de maior porte ou um animal que esteja com alguma doença que possa ser transmitida o problema é ainda maior”, completa o biólogo.
Por isso, ele indica, nesses casos, “entrar em contato com o setor dos animais sinantrópicos da prefeitura, que tem uma equipe especializada para retirada, principalmente de animais peçonhentos”. “Se for animais maiores, entrar em contato com o corpo de bombeiros, que são treinados para o manejo desses animais”, orienta.
Nardy aconselha a população a “tentar utilizar a água de forma racional, pois nem sempre temos informações de como estão os nossos reservatórios”. “Se verem focos de fumaça acionem as autoridades, evitem jogar lixo nas ruas, principalmente em borda de matas urbanas, mantenham os terrenos limpos e denunciem se verem alguém ateando fogo, porque causar incêndio proposital é um ato criminoso. Fogo para limpar não existe e manejo de fogo só com autorização dos órgãos competentes e licenciadores”, finaliza.
Informações sobre o curso de Biologia da Uniara podem ser obtidas no endereço www.uniara.com.br ou pelo telefone 0800 55 65 88.
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